Por: Rachel Cardoso*
Notícias falsas tornaram-se uma preocupação mundial de governos e empresas. Mas este não é um problema novo, embora agora o desafio imposto aos gestores de crise corporativa seja mais complexo diante da profissionalização de uma indústria, que conta com robôs para disseminar informações mentirosas. Assim, é evidente que a dimensão do estrago causado por um fato mal contado pode ser infinitamente maior.
Quem não se lembra da famosa “rádio-peão” cultivada em diversos ambientes de trabalho porque a empresa decide ocultar informações de seus colaboradores? Atualmente, aquela conversinha de corredor pode se transformar numa bomba, prestes a ser detonada no mercado, causando prejuízos incalculáveis.
É que com a democratização das informações pelas redes sociais, a boataria foi elevada a níveis estratosféricos e ganhou esse nome pomposo: Fake News. Há ainda a Hidden News (quando se oculta algum tipo de fato para tirar proveito ou prejudicar algum oponente).
Seja lá qual for a manobra usada, o assunto existe desde a época dos pasquins italianos no século 16. Naquele tempo, difamar figuras públicas com noticiário falso já era usado como estratégia de comunicação.
Ciente de que as fakes news são um risco para o indivíduo, para grupos, governos e empresas, algumas grandes corporações já estão revisando suas políticas de investimento, pressionando as redes sociais a tomarem medidas contra a disseminação de notícias falsas e a divulgação de conteúdo impróprio ou que incentive o ódio.
Na era da pós-verdade fica muito mais difícil construir marcas e estabelecer relações de confiança entre consumidores e produtos num ambiente de baixa credibilidade. Nos Estados Unidos, apenas 35% das pessoas declararam confiar nas notícias que leem nas redes sociais (em jornais/revistas este índice sobe a quase 70%).
Por isso, as redes sociais são muito mais rápidas em alcançar as pessoas, e muito mais lentas em conquistar o coração e mentes dessas mesmas pessoas. Ou seja, o modelo de negócio pode mudar, mas uma coisa continua sendo fundamental nessa relação: a credibilidade.
Portanto, o perigo das fake news para as empresas é que elas estão, pela primeira vez, enfrentando um monstro que não está relacionado com a verdade e surge do nada. Daí a necessidade cada vez maior de se comunicar de forma ética e transparente. Com planos de comunicação estratégicos e adaptáveis. E construir reputação sólida e cada vez mais próxima dos internautas nas redes sociais. Não é um investimento em vão.
E no Brasil, em ano eleitoral, o sinal de alerta precisa estar ligado 24 horas. Mas embora as fakes news tenham conquistado popularidade por conta do universo da política – a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos foi o começo das discussões – todos nós, inclusive as empresas e as marcas, devemos fazer parte desta conversa.
*Rachel Cardoso é jornalista e gerontologista.